Concerto

Não faz parte do meu cotidiano ir a concertos. Eu poderia narrar aqui cada uma das vezes que fui a um. Foram poucos, portanto me lembro nitidamente dos dias. Se duvidar, digo até como eu estava vestida.

A primeira vez, fui ver a orquestra sinfônica de São Paulo, no Teatro Deodoro, em Maceió. Usei uma saia de malha preta, com pequenas estampas brancas e uma blusa, também preta. Acho engraçado conseguir descrever o modo como eu me trajava no dia. Isso só é possível porque toda a cena está vívida na minha mente.

Fui sozinha e sentei ao lado de um senhor que fazia parte da empresa patrocinadora do espetáculo. Se não me engano, ele era da Sony. Me confessou estar acompanhando a turnê Brasil afora. Ele não compartilhava da minha ansiedade de ver uma sinfônica pela primeira vez. Já tinha se acostumado. Eu, ao contrário, estava ali pela primeira vez e felicíssima.

Apesar de toda minha expectativa, esqueci qual foi o repertório do dia. Mas me recordo da comoção de ouvir os vários instrumentos soando juntos. De como a música preenchia o teatro. Preenchia meus ouvidos. Da comoção geral. Da platéia aplaudindo efusivamente.

É uma memória agradável.

Mas o engraçado de tudo isso é como essa cena surge na minha cabeça (e o que me fez escrever essa crônica). Quando vou escrever algo como "preciso consertar a tela do meu celular" e vem a dúvida "consertar, de arrumar, ajeitar, é com cê ou com esse?", eu lembro dos vários instrumentos soando em conjunto, em harmonia, em concerto. A palavra concerto, surge clara, em letras pretas. Concerto com "c".

O outro é ao contrário: conserto, com "s". Lembro de uma oficina com sons incômodos. Martelo batendo, o serrote cortando um pedaço de madeira...