Espaço II

Hoje de manhã.... descobri quão grande é a minha garrafa térmica.

Limpeza

Rum tem um cheiro tão forte de álcool que é capaz de um dia eu querer desinfectar meus móveis com ele.

Apego

Se nos é difícil desapegarmos dos nossos livros, que diremos das pessoas?

Dias

Primeiro dia. Saímos todos juntos. Paramos numa padaria, tomamos café. Revemos os amigos, aula inaugural. Visita a biblioteca e ao arquivo, esboços de Niemeyer. Mas eu particularmente não imaginava como seriam os próximos.

Talvez eu devesse ter começado a escrevê-los antes. Passei um enorme tempo só absorvendo informação. De todos tipos.Vozes, novas, manias, novas, sotaques expressões vestes trejeitos prédios ritmos cheiros professores disciplinas textos conceitos palavras árvores climas caminhos cervejas comidas temperos preços propagandas janelas móveis carpetes elevadores filas vitrines pombos. Tudo que traz uma nova cidade. Um caos completamente novo. Ou revisitado após anos.

Embrechados

Escrever no aeroporto, como modo de passar o tempo, me leva a relatos completamente fragmentados. Praticamente uma sobreposição amorfa de palavras que me remetem a lembranças.

Sorte minha ter esses dois papéis "em branco". Acho que os meus pensamentos levam vantagem sobre os meus textos.

Eu quero entender sobre diretores de cinema. Talvez, hoje, eu queria saber o que é arte. Talvez.

O tempo

não é linear, neste lugar.

Céu

As nuvens estão me dando vontade de tomar sorvete de coco. Ou então de desmancha-las com a mão. Ou de pular sobre elas.

Do you speak Portuguese?

Quando ocupo uma mesa, sinto-me dona desse território. Momentaneamente me pertencem a mesa e suas cadeiras. Não sou egoísta, posso ceder minhas posses a alguém mais necessitado. Mas hão de me pedir permissão, afinal, não seria essa uma questão de educação? Assim me ensinou minha mãe.

Eis um homem a se aproximar da minha mesa e tomar-me uma cadeira. Acompanhei seus movimentos com certo ar de reprovação. Tendo notado, o homem resolveu se retratar:

- Please?

Sorri afirmativamente. "Olhos azuis, cabelo claro, mochila grande...deve ser gringa", ele provavelmente pensou.

D'outro mundo

Disseram-me que sou. Fiquei assim... achando divertido, mas surpresa. Aqui sou um pouco diferente, nota-se. Mas não me sabia "espantosa".

Joaquim Silva

Morei numa casa vertical com 8 pessoas, subíamos para lá de 100 degraus. Bom para as panturilhas. As pessoas criam estratégias para viver bem e talvez não seja tão importante a estratégia em si, mas o fim. Quando chegamos o táxi tocava Leila Pinheiro e um menino me ajudou a subir as malas. Graças a Deus! Da próxima vez só levo as que conseguir carregar. Esqueçam-se os diversos sapatos. Talvez havaianas sejam mesmo lindos calçados.

Desenho

Foi eu me sentir censurada nas minhas idéias, e quando vi já estava amordaçando o meu desenho. Mal consigo me enquadrar no A3, falta-me o braço direito e os pés. Porém agora já tenho curvas. Embora não tenha olhos...  estou a falar para mim mesma?

Preciso tocar e ver a realidade.

Festival na praça

Praça Pedro II, festival de música.
De um lado o teatro
d'outro
o coreto

No teatro, o tapete vermelho sai como língua
sobre a calçada e a rua
O carro da tv, pessoas em fila

Os hippies na praça
e jovens mirando

Mas quem primeiro ouvi
foi o samba,
me fez quebrar o andar
e por-me em dúvida

Cruzei a praça sob olhares
Dei a volta,
passei pela frente da banda
com flauta e mais

Sentei fora
pois falta no teatro
um foyer de fato

Uma hippie quis fazer "jogo" pela minha saia

O começo atrasou
Muito
Esperavam as autoridades
essas... como se não tivessem hora
conversavam do lado de fora

Deveras irritada
pela demora e som alto
aguardei
Pois tinha fome
e tinha sede

Resultado:
Quero mais
Amanhã, ponho a saia pelo avesso
e volto ao espetáculo

GRU, 07 de junho de 2011

Acabei deixando meu diário de viagens em Teresina. Ele me traz lembranças que não sei se quero recordar agora. Passei mais de um mês fora de casa e ainda não estou voltando para lá. Um mês no Rio e alguns dias em São Paulo. Dias maravilhosos e intensos. "Eu quero curtir!", ouvi isso algumas vezes. A Lapa é algo fora do normal, um portal para uma realidade paralela. Difícil descrever... inúmeros personagens esquisitos. Gente de todo tipo, muita gente. Um ambiente sórdido que nas sextas abriga uma alegria incomum. Talvez abrigo para os que perderam o sentido da vida.

(continua)

Encaixar

Papalagui que sou, passei o dia a arrumar a minha caixa e as minhas caixinhas. E sabe de uma coisa? Acho que preciso de mais umas caixas.

Saudade...

do autocad!

Lugar

Depende do lugar. Sempre. A mesma lâmpada no teto ilumina mais que na mesa de cabeceira.

Assim foi

Ia com o fone de ouvido, alheia. Ri de uma presepada qualquer d'um moleque. Riu também a pedinte, rimos nós duas uma para outra, compartilhávamos o mesmo momento. Ela olhou para mim e de pronto estendeu a mão, eu,  por minha vez, de pronto inclinei o rosto, como se fosse menear a cabeça negando o pedido de esmola, Meu movimento foi interrompido quando dela ouvi: "que Deus te dê saúde!". Amém!

Quando o povo dita a lei


"§ 2º - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles."

"(...)
§ 1o O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto.
§ 2o O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.

Art. 14. A Câmara dos Deputados, verificando o cumprimento das exigências estabelecidas no art. 13 e respectivos parágrafos, dará seguimento à iniciativa popular, consoante as normas do Regimento Interno."

Numa conversa de bar, soube dessa possibilidade. Sim, eu já tinha ouvido falar do projeto de lei "Ficha Limpa", mas não sabia que era um projeto popular. Outro exemplo, é a "Lei da Bicicleta", de Curitiba. Um instrumento poderoso que nós temos e acredito, tal como eu, muito gente deve desconhecer. Às vezes gritamos, reclamamos, mas nos informamos pouco sobre os métodos pacíficos e eficazes de atingirrmos nossos anseios enquanto cidadãos.

Se lhe interessa, achei esse artigo simples e elucidativo: Projeto de Lei de Iniciativa Popular, por Ana Lucia Santana.



Bomba-relógio

Barragem de Belo Monte, proibição da Marcha da Maconha e o pior, da Marcha da Liberdade, Retirada do Creative Commons do site do MinC, e por último alteração nas regras de licitação para os obras da copa do mundo 2014.

Enquanto isso, mais de 10 milhões de brasileiros sobrevivem com 39 reais.

Alimentação II

Eu sou uma menina de critérios.
Para escolher comida industrializada, que tem tudo o mesmo sabor, tenho de inventar um critério. Poderia ser a cor da embalagem, mas o meu sabor escolhido de Cup Noodles é "costela com molho de churrasco".

Antropofagia.

Realidades

Paralelas. Dizem que a rigor não existem retas paralelas, pois todas se tocam no infinito. Como sequer existem retas, pois as retas são na verdade segmentos de uma imensa curva. "Tudo que é sólido se desmancha no ar." "Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer."

Tô aqui em Teresina, mas não sei qual é o meu lugar. "Tô estudando pra saber ignorar". Mas estive no Rio, "com o olho fechado pra te ver melhor" ou pra não me dedurar...

Amanhã não sei pra onde vou, nem se vou à algum lugar.

"Tô iluminada para poder cegar, to ficando cega para poder guiar."


(homenagem ao Tom Zè)

Welcome to real life: Parte II

Parte II, III ou IV. Nem sei mais... a primeira vez que usei essa expressão foi quando voltei da presencial do DS.

Cheguei em casa e graças a Deus ela não está alagada nem ninguém trocou as fechaduras. Embora eu tenha tido certeza disso cada vez que eu tentei encaixar a chave de cabeça para baixo. Eu sabia que não pagar o aluguel e ficar fora por um mês daria nisso. E se eu tentar colocar a chave do jeito normal. Ah, tá tudo em ordem. Por que a chave não deveria funcionar do jeito usual? Porque na Lapa não era assim. É, na Lapa nem as fechaduras são usuais. Mundo às avessas.

Rio, São Paulo, Maceió e não satisfeita fui dar uma provada em Brasília. Apenas três horas de permanência, mas tempo suficiente para relembrar o seu sistema de funcionamento: superquadras numéricas. Estou zonza de tantos sistemas urbanos, tantas escalas diferentes e sotaques.

Dizem que suco de uva não estraga, no máximo vira vinho. Era só o que tinha na geladeira para matar minha sede. Amanhã, volto a labuta. Saravá!

P.S:: Maldita injeção de adrenalina que me tirou do sono profundo e me despertou para catar minhas malas na esteira do aeroporto!

Ao Bruno

"(...) Com oito anos incompletos, eu contava um adultério, com todos os matadouros. O marido saía e a mulher, nas barbas indignadas dos vizinhos, chamava o amante.

Eu era um moralista feroz. E não fui, confesso, nada compassivo. Um dia, o marido volta mais cedo. Ao entrar em casa, vê aquele homem saltar da janela, pular o muro e sumir. A mulher caiu-lhe aos pés, soluçando: - 'Não me mate! Não me mate!'. O marido agarrou-a pelos cabelos. E o que houve, em seguida, foi uma carnificina. Lembro-me de que a composição terminava assim: - 'Acabou de matá-la a pontapés'.

A professora acabou de ler e olhara para mim, aterrada. Depois, levantou-se e foi mostrar o texto à diretora. Daí a pouco, apareciam, na porta, a professora e mais duas ou três. Uma delas perguntou, baixo: - 'É aquele? Da cabeça grande?'. Era eu, sim. Fui chamado. Levantei, vermelhíssimo. Todo mundo estava interessado no erotismo e na crueldade da história e dos personagens. No elogio, não. Quase me farejaram como se eu fosse um pequeno tarado.

Mas era ainda um escândalo risonho, um escândalo terno. Riam entre si. Perguntavam: - 'Como é que você tem essas idéias?'. Eu baixava a vista, rubro de vergonha. E amei, como nunca, a professora da papada. Depois, veio o resultado: - eu e o garoto do elefante em primeiro lugar. Desprezei o rival, que não tinha posto o diamante na testa do rajá.

E, de repente, comecei a sentir que ninguém me compreendia."

(Nelson Rodrigues em "A menina sem estrela")

Eu nem gosto de postar textos alheios. Mas olhei na pasta "textos meus", de 65, só gosto realmente de dois. E não combinavam com o dia de hoje...

Lapa

Na Lapa, se um saci passa, acha-se normal.

Fico feliz

Fico feliz quando estou com você
Falar isso é demodê
Mas a verdade não deixa de ser

Ora bolas, tanta coisa é verdade
Tanta coisa é para se dizer
Porém inventaram regras para nos fazer crer
Que o melhor do que beijar é morder
Melhor que amar é sofrer
O sofrimento é casto
Apaga o pecado
Morrer na cruz  como o Cristo
É o pedido a nós feito
Mais do que amar o próximo

Pois o amor...
Amor?
Pra quê?
É o quê?

P.S.:  Escrevi esse texto em 2006. Aqui no Rio a vida está bem dinâmica, e quase não tenho parado para ficar no computador. Rotina que é muito boa por sinal... resolvi postar meus textos antigos, já que desisti de publicar um livro ehehehehe

Passo

Sou caminhante
na vida.

A passos largos
curtos
Incertos
Lépidos!
Intrépidos.

Não cesso.

Música

Dia desses, vi o post do Um Passinho a Frente: "No meu tempo não tinha tanta sacanagem". Lá tem uma cópia de uma marchinha de carnaval redigida com um português arcaico. Bem, não há necessariamente uma relação direta entre qualidade musical e antiguidade. Música ruim sempre existiu. Isso me fez lembrar de um trecho de uma crônica de Mário de Andrade tentando explicar o sucesso de certas músicas "idiotas", conforme sua própria adjetivação.

“Na verdade é um problema exclusivamente fisiológico. Não é a beleza da poesia ou da béstia, nem o bem nem a verdade possíveis neles, que arrastam mas sim certos elementos fisiológicos de que eles se utilizam: o ritmo a sonoridade. Estes são elementos dos mais universais, especificamente coletivantes, por assim dizer. A expressão dos sentimentos, dos lirismos gerais, dos ideais e idéias, valem um mínimo ou não valem nada nesses gêneros de pseudo-arte, que têm função coletiva. O que vale é o ritmo, o que vale é o som. E estão aí como prova os hinos nacionais, os cânticos, cançonetas, danças em voga, que no geral são profundamente idiotas. Se têm arte, se têm beleza num caso desses é mera coincidência; e Concenius chegou a dizer que os cânticos luteranos tinham atraído mais gente pra reforma que os escritos e sermões de Lutero. Pelo menos por hoje, estou convencido que Duque Estrada escreveu uma letra adequadíssima ao Hino Nacional e que nada se deve modificar nela.”( Extraído da crônica Poesia Proletária, p.242, ano de 1930)

Sistemas referenciais

"O povo chukchee, da Sibéria, distingue 22 direções cardeais, tridimensionais, relacionadas ao Sol. Elas incluem o zênite e o nadir, a meia-noite (norte) e o meio-dia (sul), todas elas fixas, mais outras dezoito que se definem pela posição do Sol em vários momentos do dia ou da noite, e que, portanto, mudam conforme as estações." (Kevin Lynch em "A imagem da cidade")

Eu, a direita da esquerda, não consigo distinguir.

Caxambu

Fomos ao parque. De carro até a metade do caminho. Em diante, a pé. A cidade só tem velhos é assim uma cidade meio triste. Falta um pouco de alegria. Poderiam ser velhos vivídos, mas parece que poucos são. Demasiados preocupados, não com a saúde, com as doenças e quem sabe a proximidade da morte. Talvez incomode muito ver que ninguém escapa de perder a cor dos cabelos a lisura da pele e o andar esguio. Dores e remédio caros. Amor? Na maior das vezes cachorros. Dizem que os homens vão primeiro, e me parece verdade.

P.S.: Esse texto foi escrito em 2009, quando visitei a cidade. Se não errada, a pontuação não é convencional. Mas mantive conforme o manuscrito, sabe-se lá o que passava pela minha mente naqueles dias. 

Quadrilha

Caio Prado Junior, que trabalhou com Monteiro Lobato no jornal "A platéia", escreveu "História Econômica do Brasil", que foi resenhado por Fernand Braudel, que era um dos líderes da Escola Annales, da qual também fazia parte Jacques Le Goff, que não tinha entrado na história. 

Por que raios essas relações? São os escritores que andei lendo esse ano. Mas a vez hoje é de Caio Prado e o livro bem ali citado. Seu texto fez com que eu me sentisse de volta às aulas de história do colégio. Não é de modo algum uma narrativa pesada e me peguei empolgada lendo história econômica no meio das madrugadas. Os capítulos são curtos, informação compactada.O autor não se restringe a economia, fala da sociedade e da política, suas imbricações. Dedica-se fervorosamente a questão da escravidão no Brasil e nem de longe cita princesa alguma, afinal esse apelo romanesco à história da libertação dos escravos realmente só poderia ser uma versão infantil da história.

Boa parte do livro se refere a história colonial. Em outro tanto o autor argumenta que o Brasil jamais deixou de ter uma economia colonial, que mesmo a nossa industrialização não tinha como objetivo atender as necessidades nacionais. Estávamos sempre servindo a interesses externos.

Mesmo sem nunca ter lido nada sobre o livro, havia criado as minhas expectativas. Imaginei um texto estritamente voltado para economia, abrangendo um espaço temporal maior. Talvez porque eu sequer tivesse me dado ao trabalho de ver o ano da publicação original antes de sair fazendo deduções.

Mas não foi só eu quem sentiu falta de algo, Braudel dá-se ao luxo da contradição: "Posso afirmar que o considero muito breve, apesar de sua amplitude? ". Enfim para aqueles que almejem uma opinião mais técnica sobre a publicação eu recomendo a resenha do historiador francês.

Melancolia


Como é ruim sentir saudades de quem não sente nossa falta!

Sentimentalismos

"A maioria das idéias sentimentais envolvem, no fundo, um profundo descaso, ainda que inconsciente." (Janes Jacob em "Morte e Vida de Grandes Cidades)

"Eu sei,
Eu não sei viver sem ela
Assim, um simples talvez me desespera
Ninguém pode querer bem ser ralar
Não há nada o que fazer
Amar é tudo"
(Djavan em "Amar é tudo")

"Aaaaiii
Me faz sofrer
Faz que me mata
E se não mata fere"
(Djavan em "Samurai")

"Meu bem querer
Meu encanto, estou sofrendo tanto
Amor, e o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado para morrer de amor"
(Djavan em "Meu bem-qerer")

"Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores"
(Djavan em "Nem um dia)

"O amor não é, primacialmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para com um 'objeto' de amor. Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao resto dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado. (...) Se posso dizer a outrem, 'Eu te amo', devo ser capaz de dizer: 'Amo em ti a todos, através de ti amo o mundo, amo-me a mim mesmo em ti'." (Erich Fromm em "A arte de amar")

Hoje, ao mesmo tempo que lia o livro citado na primeira frase, escutava uma playlist do compositor supracitado. Todas as suas músicas que ouvi, falavam em um certo amor. Mas que amor estranho é esse que faz sofrer, leva a morte e afasta da felicidade? É uma pena se inverter assim o sentido da vida. Não acredito que se deva buscar prazer na dor, isso certamente não traz felicidade a ninguém. Nem é o amor um dom, é antes inerente a todo ser humano. Os sentimentalismos nos afastam da visão objetiva madura da realidade. Concordo com a idéia do amor ser uma orientação, uma forma de se colocar no mundo, que norteia suas atitudes.

Não me excluo do grupo de pessoas que se perdem na ansiedade de encontrar um par. Faz parte do processo de aprendizagem. E tenho aprendido muito pelas minhas andanças. Aprendido a compreender, a manter a calma. Tropeço. Mas sigo em frente.

A tristeza é senhora

Ontem explorando o Brainstorm9 descobri um projeto que achei fantástico, o do curta-metragem Thomas Tristonho. Trabalho que dá orgulho de ver. Percebe-se o carinho com que foi concebido. Além do mais, há no site três mini-documentários com o tema Tristeza para você. São três artistas, falam do seu trabalho, de quão gratificante é trabalhar com aquilo que realmente gostam. Ambos possuem trabalhos muito bonitos, e o primeiro é a figura mais excêntrica. Todos os três me comoveram!

Achei interessante como o tema foi abordado, me parece uma abordagem otimista da tristeza por mais contraditório isso pareça.

Hoje viajei ouvindo Caetano e Gil cantando sobre a tristeza e o samba. Vozes lindas, letra delicada e envolvente.

"A tristeza é senhora
Desde que o samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite e a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou
O samba não vai morrer
Veja o dia ainda não raiou
O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor
O grande poder transformador"*

Lembrar da tristeza não é tão mal, quando encontramos modos de transforma-la em arte, em expressão de vida!

Tempo?

Há "tempo para tudo", diz a bíblia:

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:
Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e de arrancar o que se plantou;

tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;
tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria.
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;
tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora;
tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;
tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz."


Mas o poeta Drummond, diz que o tempo "não passa". Passa?

O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.


O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.


Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.


O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.


São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda hora.


E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade."



Religião

Quando eu nasci minha mãe era católica, meu pai um questionador. Lá pelas tantas eles resolveram frequentar juntos a igreja batista. Depois, entram na malfadada Igreja Universal. Vim para Maceió, e numa tentativa de manter minhas raízes e agradar minha mãe ainda frequentei por um tempo a igreja universal. Depois larguei e fiquei sem religião. Mas morava numa casa católica, que praticamente me obrigavam a ir a missa toda semana. Fui por um tempo e talvez até tenha gostado de algumas coisas...

Passei uma época achando que as religiões era um câncer na humanidade, o ópio do povo, algo a ser exterminado.


Revi meus conceitos, mas continuo sem religião alguma. Gosto de pensar na mensagem da biblía... na mensagem de amor que ela traz.


Continuo achando que as pessoas tão perdidas e cegas. De fato o importante não é para missa rezar. O importante é ter amor pela vida, amor pelo próximo. Saber ouvir, saber ser companheiro. Acho que as pessoas perdem o foco, mas não adianta muita coisa se revoltar...

Enfim... entre essas idas e vindas eu li um livro fantástico "Sobre o coração do homem", do Erich Fromm. Daí ele fala um pouco sobre as diversas religiões, suas distorções e sobre as tendências humanas para a vida e para a morte. O livro não precisa virar uma biblía, afinal se você pega um escritor e simplesmente absorve o que ele fala, sem reflexão crítica vai tá incidindo no mesmo erro dos fanáticos religiosos. Mas é um livro que vale a pena.

No mais é compreender que as pessoas são diferentes e tem objetivos diferentes na vida. Algumas são inquietas e questionadoras. Outras são mais conformadas e preferem seguir um conjunto de regras preexistente.

Integridade

Considerando-se os seres humanos como sistemas harmoniosos, sua integridade depende do grau de equilíbrio que os elementos que o compõem mantêm entre si. O conjunto de elementos que configuram um ser forma uma unidade básica. A partir dessa compreensão, pode-se descrever cada elemento, cda parte, tendo por base a intenção original. A integridade se refere ao quanto o bem é completo e quanto preserva do equilíbrio entre os diversos elementos componentes. Um ser é passível de ser eventual ou intencionalmente modificado em partes ou no todo. Pode ser descaracterizado, degradar-se ao longo do tempo, deteriorar-se, ter a dimensão original reduzida, perder a qualidade do conjunto ou mesmo ser destruído. Por sofrer amputações ou acréscimos, é possível que venha a transformar-se em outra unidade. Muitas vezes inevitáveis, as transformações fazem parte da estratigrafia histórica.

Valores

A meta da preservação é salvaguardar a qualidade e os valores do  homem, proteger o material essencial e assegurar sua integridade e autenticidade.

"A alegoria do patrimônio"

Françoise Choay, filósofa, estudiosa das línguas e da antropologia, doutora em Letras publicou um livro justo com esse título. Nele a autora aborda a evolução do conceito de patrimônio histórico e das diferentes estratégias de preservação. Além do mais Choay aponta como patrimônio, e esse é o desfecho do livro, como uma alegoria que representa nossa atual condição humana. Para ela o patrimônio é um espelho onde nos admiramos, tal qual Narciso.
   
Lendo o "Manual de Interveções em Jardins Históricos", perecebi que o texto faria igual sentido se ao invés de se referir a jardins, falasse no homem. Até onde refletimos sobre a nossa condição humana e nossos princípios elementares: conservação de valores, integridade e autenticidade. Daí pensei em uma brincadeira literária: manter o corpo do texto, substituindo as referências ao jardins por referências ao homem. Seguem nos próximos posts, as minhas brincadeiras.

Razão

"No entanto, a razão não reina no mundo, e não reinará necessariamente aqui."

(Jane Jacobs em "Morte e Vida das Grandes Cidades")

Desastrada?

Há outra maneira melhor de começar o dia do que derrubando café no scanner do trabalho?

Ah... o amor!

"- Pai, e o amor?

- Qual deles? Tem vários: o eros, o ágape...

- O amor eros.

- Ah, é uma farsa da natureza. Leva aos homens a se reproduzirem. Nem o homem, nem a mulher ganham, quem ganha é a natureza. Mas é gostoso, é muito bom."

Simples assim né? Porque não, uma farsa?

Sigo a procura do aprendizado. 

Alegoria da mãe

Muitas vezes autoritória e repressora. Mas como em tudo que é humano, traz  em si, esperança e amor. Estes se revelam em sua plenitude, quando estamos a beira do colapso e ansiamos nada além da compreensão. Aí ela nos põe no colo, confessa suas fraquezas e erros e nos mostra que a felicidade não é uma quimera inalcansável.

Mundo desajeitado

Talvez o mundo não seja cruel. Talvez seja só desajeitado. Uma massa de pessoas perdidas e medrosas. Que de perdidas e medrosas pulam para dentro de si. Pulam para uma escuridão sem fim. Porque de tão desorganizado está o mundo, temem permanecer a fazer trocas. Que há gente boa no mundo? Há, mas elas também não assim tão organizadas e com seu lado bom pra fora. As vezes elas aparentam egoístas e raivosas. E nos escondemos, escondemos e nos distanciamos. Quando isso vai acabar? Ou nos destruiremos antes? Ah não ... seria tamanho desperdício. Afinal, a tanta vida lá fora. Pra que trancar-se no vazio?

Biblía

"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as cousas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas." I Coríntios 6:12

Tão simples e objetivo, mas extremamente verdadeiro. E não há ateu que não tenha comprovado essa verdade, penso eu. Compreendo que se questione a existência de Deus e do inferno. Inclusive eu os questiono. Querendo ou não estou sempre diante dessa verdade. Seja quando sinto o efeito da ressaca do álcool e prometo-me falaciosamente nunca mais beber. Seja quando sigo por caminhos que me levam a tristeza. Enfim, não há quem me impeça de tomar essa ou aquela atitude, a não ser a minha consciência das consequências.

Para que teimar em ser teimosa? Ganho algum benefício verdadeiro com isso? Nenhum.

Sapato furado

Sapato furado é o que se joga fora. Por isso todo dia eu uso o mesmo, uma sapatilha roxa. O problema é que a cada uso, ela amacia e se conforma melhor no meu pé. E eu vou gostando de ter assim uma sapatilha tão companheira, que está comigo onde quer que eu vou. As vezes tenho dúvidas cromáticas, "roxo combina com a minha blusa verde e o colar vermelho?". Mas o roxo é cor vizinha do vermelho e me dá um visual alegre, de modo a contribuir com o sorriso que tenho de estampar ao chegar ao trabalho.

Vocês hão de se perguntar porque tudo isso. Simples. Tenho sapatos demais, tantos que eu me esqueço quais. Mas não quero me desfazer deles antes de usufrui-los, afinal gastei dinheiro para adquiri-los. Assim, quero usar minha sapatilha até gastar e depois jogar fora. 

Triste vida dos sapatos que se furam.Aos menos meu calçado violeta recebeu uma homenagem!

Pense em China

"Sugestão para um dia em que você não tiver nada com o que se preocupar e estiver até convencido que o mundo pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Finja que é agora. Simule otimismo. Imite alguém acreditando no futuro com toda a força. Faça cara de quem não tem dúvidas de que tudo vai dar certo. Convença-se de que tudo vai dar certo. Pronto? Agora pense na China."
(Trecho do texto "Pense na China", extraído de: http://www.consciencia.net, segundo esse site o texto foi originalmente publicado no jornal O Globo)


Se quando se fala em China, boa parte das pessoas lembram do temível dia que o mundo será dominado "no empurrão" pelos chineses, alguns admiradores do circuito alternativo de música pensam no China, um banda cantor pernambucano classificado no myspace como "rock experimental". Apesar de só conhecer um álbum deles, curto o som e estou sempre redescobrindo as letras. Hoje foi a vez de "As ondas que não chegam nos pés". Morando em Teresina é que não vão chegar mesmo (isso é o que eu chamo de humor egoísta, só eu acho graça!). De toda forma segue a letra, e pra quem quiser baixar, o mp3 tá disponível bem aqui.
"Hoje eu vou sumir como a lua
Fugir como quem corre do sol
Não quero os astros girando ao meu redor.
Cansei de ficar na areia esperando ondas nos pés
Por um minuto parei de pensar em você.

Mas caí
Por não estar bem alimentado
Respirei bem fundo
Esperei o mundo parar de girar.

É, por hoje você não morre mais
Amanhã quem sabe

Lembrança e saudade caminham sem medo
no esquecimento de olhos cerrados
assim como as ondas que apagam meus passos
esperando o mar que nunca vem beijar meus pés"
Fonte: http://letras.terra.com.br/china/1232306/

Fugacidade

Conflitos, dúvidas, mudanças, internet, livros, televisão, revistas, outdoors. Tantas informações e tão constantemente superficiais. Leio páginas e páginas. Sei que absorvo mais do que imagino, mas geralmente me concentro em poucas afirmações e não raras vezes, nas mais fúteis - como no caso do Napoleão córsego.

E o mundo parece impalpável, distante e fugaz. Do mesmo jeito, são os meus pensamentos que se formam e dissolvem. As soluções achadas em sonho, tão logo acordo, se dissolvem. E essas eram, justamente, as mais perfeitas. Inclusive meus textos tornaram-se evasivos!

Silogismo

1. Não escolho o que eu sinto.
2. Assim não escolho te amar, bem como eu não escolho sentir vontade de morrer.

Acho que tem algo errado aí.

Relações

Raiva, ciúme, impulsividade. Depressão, tristeza. Alegria, euforia, risos e gargalhadas. Levo assim a vida, com sentimentos extremados. Meu modo de viver que as vezes me atrapalha, às vezes me impulsiona. Dificuldade de me concentrar no trabalho quando a minha vida tá conturbada. Isso porque o meu trabalho, ao menos a parte mais díficil, se relaciona a entender as pessoas. Para isso eu tenho que estar com os meus terminais sensitivos afiados. Há no meu trabalho uma parte prática e tecnológica? Sim. Mas essa está nos livros, revistas, na internet. Díficil é saber o que querem as pessoas.

Porque é difícil? Quando você imagina um personagem e tenta desenhá-lo, fatalmente ele não sairá igual a imagem original gerada na sua mente. Ao menos é assim comigo e já a confissão de outros artistas. Nós nos expressamos por meio de códigos, que por ricos que sejam não traduzem fielmente nossas idéias. Eu não a primeira pessoa afirmar sobre a nossa incapacidade de nos expressarmos precisamente. Na contramão, estamos nós sentados ao ouvir uma música e dizer "nossa, perfeito, não há melhor expressão de felicidade do que primavera de Vivaldi". A música é uma expressão extremamente sensível, porém com códigos menos inteligiveís que as palavras.

Em algum livro sobre comunicação li que a coisa mais imbecil é achar que somos capazes de prever o que o outro vai falar, simplesmente porque nem quem fala sabe o que falar até o momento da fala se concretizar. Isso porque o pensamento se constrói a cada momento e é extremamente rápido. Mas ainda assim, teimosamente tentamos entender os outros sem questioná-los, tentamos resolver nossos problemas de relacionamento sozinhos. Vejo isso a todo tempo e eu mesma pratico isso. Tão raras as vezes eu me encorajo a ter uma conversa franca. E quando enfim venço meus temores, percebo que estava feito tola, lutando contra moinhos de vento inabaláveis.

Falando em relações, vale a pena ver isso aqui:
http://www.chongas.com.br/category/tirinha-exclusiva-certo-errado-e-sem-nocao/

Monteiro Lobato

"Considero os homens equações de terceiro grau - equações psicológicas, está claro. Estudo-os, deduzo, concluo - e esfaqueio com precisão praticamente absoluta." 
Monteiro Lobato no conto "A facada imortal".

Tenho achado ele um escritor surpreendente. Muito mais famoso como o autor do Sítio do Picapau Amarelo (livro que terminou virando programa de televisão infantil, gravado e regravado pela tv Globo) também escreveu livros "adultos". Para surpresa de muitos, às vezes se apresenta como um contista macabro (vide o conto o "Bugio queimado"). Outras demonstra perspicaz crítica a sociedade, sem se tornar anacrônico, como é no caso do texto "Negrinha". 

Aqueles que andaram lendo denúncias do racismo implícito na obra do escritor paulista, de Taubaté, podem por em xeque tais afirmativas ao conhecer esse conto em específico. Nele, Monteiro Lobato denúncia os maus tratos que sofrem algumas crianças, descrevendo um caso  muito semelhante ao noticiado recentemente no Fantástico, sobre uma juíza a qual espancava sua filha adotiva. Curiosa fiquei, ao verificar que esse texto anteriormente disponibilizado no site "Releituras", fora tirado do ar mediante solicitação da família de Lobato.

Os contos referidos, encontram-se no livro "Negrinha", homônimo a um dos contos supracitados, publicado originalmente em 1920. Comprei numa promoção por menos de 10 reais e acho que sai no lucro... pelo que andei lendo os especialistas consideram que a publicação "reúne o melhor em sua obra de literatura não-infantil". Seja isso verdade ou não, recomendo como uma boa distração pós-expediente.

"Odeio qualquer atividade vazia dessa 'emoção da caça' que considero a coisa suprema da vida. (...) Uns caçam meninas bonitas, outros caçam negócios, outros caçam imagens e rimas".
Monteiro Lobato, também no conto "A facada imortal"