Ao Bruno

"(...) Com oito anos incompletos, eu contava um adultério, com todos os matadouros. O marido saía e a mulher, nas barbas indignadas dos vizinhos, chamava o amante.

Eu era um moralista feroz. E não fui, confesso, nada compassivo. Um dia, o marido volta mais cedo. Ao entrar em casa, vê aquele homem saltar da janela, pular o muro e sumir. A mulher caiu-lhe aos pés, soluçando: - 'Não me mate! Não me mate!'. O marido agarrou-a pelos cabelos. E o que houve, em seguida, foi uma carnificina. Lembro-me de que a composição terminava assim: - 'Acabou de matá-la a pontapés'.

A professora acabou de ler e olhara para mim, aterrada. Depois, levantou-se e foi mostrar o texto à diretora. Daí a pouco, apareciam, na porta, a professora e mais duas ou três. Uma delas perguntou, baixo: - 'É aquele? Da cabeça grande?'. Era eu, sim. Fui chamado. Levantei, vermelhíssimo. Todo mundo estava interessado no erotismo e na crueldade da história e dos personagens. No elogio, não. Quase me farejaram como se eu fosse um pequeno tarado.

Mas era ainda um escândalo risonho, um escândalo terno. Riam entre si. Perguntavam: - 'Como é que você tem essas idéias?'. Eu baixava a vista, rubro de vergonha. E amei, como nunca, a professora da papada. Depois, veio o resultado: - eu e o garoto do elefante em primeiro lugar. Desprezei o rival, que não tinha posto o diamante na testa do rajá.

E, de repente, comecei a sentir que ninguém me compreendia."

(Nelson Rodrigues em "A menina sem estrela")

Eu nem gosto de postar textos alheios. Mas olhei na pasta "textos meus", de 65, só gosto realmente de dois. E não combinavam com o dia de hoje...

Deixa um oi!

Bruno disse...

Não conhecia, e confesso que após o 'É aquele? Da cabeça grande?', tive que checar a fonte... nem me lembrava ter te contado esse episódio, talvez um dia eu escreva sobre ele também. Mas a conclusão foi praticamente a mesma...

bjo bjo

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Não precisa por textos, ponha linhas e considerações. Ponha qqer besteira q achou engraçada.

"Quem sabe faz na hora, não espera o pau crescer!"