Aqui e além


O capitalismo na sua forma mais selvagem ainda não chegou aqui. A globalização uniformizadora ainda não fez tantos males nessa terra.

No teatro, não há como pagar com crédito, tão pouco é sempre necessário pagar mesmo quando a entrada não é franca. O funcionário do supermercado se sente a vontade em roubar frutinhas importadas para cortejar a cliente. Aos domingos, guarde seus instintos consumistas, quase não há lojas abertas mesmo no templo do consumo só funciona o cinema (sem promoção maldosa de pipoca). Se você tem olhos claros,
pensam que é estrangeira ou americana, pouco importa se a pergunta vem da secretária do curso de inglês onde você está tentando se matricular. Os paulistas nunca frustrados nas suas vontades de compra, sempre tratados "impecavelmente" estranhariam a tudo isso. Demais pessoas com idéias semelhantes sobre  serviços e mercado, também.

Entrar de graça num espetáculo de teatro seria inconcebível. O dono do shopping seria burro, por não vender quando há demanda. O funcionário do supermercado, ousado, por passar dos limites permitidos na relação vendedor-cliente. A secretária do curso de inglês, ignorante, por "desconhecer" que existem brasileiros com nomes estranhos, pele e olhos claros. "É que Narciso acha feio o que não é espelho".

Tenho aprendido muito por aqui. 

Ora, se sou contra o consumo excessivo, que lógica há em reclamar do shopping não abrir aos domingos? Além do mais comprar não deveria ser atividade para um domingo de lazer; muito melhor passear na beira do rio, visitar os amigos em casa, fazer comida, ver filmes, ler livros. Atendimento impecável? Funcionários que parecem autômatos? Espontaneidade reprimida, características pessoais anuladas a favor de um comportamento padronizado que não corra o risco de desagradar o cliente (ou mais honestamente a fonte de renda do mercado), seria isso humanismo? Que sejam livres as pessoas para se expressarem, que possamos fazer amizades com os que nos atendem, que não hajam barreiras entre seres humanos.

As grandes cidades deveriam aprender com a pequena Teresina.

Deixa um oi!

André e seus Caldos de Cana disse...

legal seu relato e suas impressões. estamos cada vez mais mal acostumados às imposições das grandes cidades, que nos fazem sentir "normais", iguais e pagando caro pra vender o cérebro e o coração. vc faz o que em teresina? seu blog já está na minha litsta de blogs amigos.

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

num é? eu faço mestrado.

Rodrigo M. Freire disse...

O automatismo exigido por essas empresas, quais querem mesmo que a escola sirva para isto: robotizar, este automatismo está roubando dos clientes o direito de lidar com gente do outro lado dos balcões. A telefonia já nos apresenta isto, basta ligar para uma operadora! Por isto o texto é dez e participo em sentimentos com o dito. E isto comunico depois de digitar as letrinhas "nessioff rryed" que provam para este sistema que não sou máquina, é o que basta!

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Rodrigo eu vi pessoal no facebook comentando que é essa verificação das letrinhas é uma coisa chata. Eu passava por elas de forma desapercebida. Agora estou pensando se retiro-as daqui do blog. Até eu quando comento tenho que digita-lashuashiushai

Dexil disse...

Vi comentários seus no B9 no artigo sobre a SOPA, e me interessei em conhecer seu blog,e felizmente você continuou interessante na forma escrita.

Mas, infelizmente, discordo em parte do seu ponto de vista.

O automatismo no atendimento não agrada o consumidor (e todos nós o somos, em maior ou menor grau). Logo, se a robotização desagrada o cliente, isso vai contra a lógica capitalista. Cliente insatisfeito vaza.

Acredito que ele exista e seja utilizado em momentos tediosos de relacionamento cliente-empresa, e sirva exatamente para tornar esses momentos desagradáveis breves ao mnáximo.

Mas não vejo isso ser incentivado e valorizado na relação funcionário-consumidor. Muito pelo contrário.

Por fim, gostaria de sugerir uma leitura para você, que cai como uma luva com o sentimento presente em suas linhas:

Sem Logo (exatamente este o nome do livro: Sem Logo)da Naomi Klein.

E, maior das supresas: obra nascida do ventre do senhor capitalista, EUA.

Livro gigante (500 e tantas páginas) mas nada cansativo, mostra a verdadeira face das corporações, e de como isso afeta nossa vida, nossos empregos, nossos costumes, nossas opniões, nossa identidade.

No mais, um abraço de um leitor que acordou as 7 da manhã, mas que está inexplicávelmente sem sono...pretendo voltar aqui mais vezes ( e ser mais breve, prometo).

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Oi Dexil, que bom que veio parar aqui.

Não precisa ficar triste por não concordar com meus pontos de vista. Pessoas com as quais simpatizamos vão enxergar coisas diferentes na vida.

De fato não ache que o automatismo na sua concepção mais comumente usada não agrade os consumidores. E concordo que somos consumidores em maior ou menor grau, afinal, gostando ou não, vivemos na sociedade do consumo. Além dos bens materiais, consumimos informação, cultura e gente, algumas vezes sem nos darmos conta disso.

Vou buscar ler o livro que você me sugeriu, talvez não agora pois estou em um momento crítico da vida. Tenho que terminar o mestrado e mesmo achando que leituras alheias ao tema do mestrado podem ser a chave para algumas questões acadêmicas, agora eu preciso de foco.

Ficarei muito feliz se voltar mais vezes. Corre o risco de você descobri que discorda de mim em vários outros pontos de vista. Mas não se abstenha de comentar, concordando ou discordando.

Um blog é para isso, estabelecer diálogos. E os diálogos não são feitos apenas de opiniões concordantes.

Também não se preocupa com o tamanho do comentário, sinta-se a vontade para falar o tanto que quiser.

Um abraço e obrigada!

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Vim por causa do comente do facebook. Mto legal seus textos!

(meu blog tbm tem verificação de letras?)

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Paulão, você tem um alterego? ahsiuhisuahisa

Blog da Arquiteta disse...

Oi larissa, obrigada pelos seus comentarios no meu blog. Volte sempre!;)

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Não tem de que :)

d. bohn disse...

Por aqui capitalismo selvagem já chegou sim, vem pro sul e verás!

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Tomei cuidado quando fui escrever, para dizer "sua forma mais selvagem" ao invés de simplesmente "capitalismo selvagem". Porque é, afinal, uma percepção que só faz sentido dentro de uma comparação. "Aqui" o capitalismo é menos selvagem do que "além".

E "aqui", não é o Piauí inteiro, afinal eu pouco conheço desse estado.

Mas me conte, o que há de selvagem no capitalismo do Sul do estado? Soube que há uma imigração sulista para essa região, gente envolvida com a agricultura.

Obrigada pela visita e pelo comentário :)

d. bohn disse...

Desculpa a formulação da frase, mas quis me referir ao sul do país. [hehe]. Aqui sim se faz encaixar a frase "O homem é lobo do homem" do THOMAS HOBBES.

http://euachoqueusimplesmentenaosei.blogspot.com.br/

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

:) Eh, depois que eu visitei seu blog pensei nessa possibilidade. Ia comentar com você e esqueci. Também não está explicito no meu texto o que é o "aqui". Só quem o acompanha, ou sabe quem eu sou poderia sabe-lo.

Diego! disse...

O consumo sempre em nossos textos e pensamentos... teríamos que aprender a viver com ele ou lutar contra?

bom quando um texto pode (re)levantar, essas polemicas. Sou nem um pouco consumista, mas entendo os amigos que vivem para o consumo

abraço
http://ligeiramenteblase.blogspot.com.br/

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Diego! Vivemos na sociedade do consumo. Não tem como nos desvencilharmos dele completamente. Entendo também aqueles que vivem para o consumo, afinal a cultura em prol do consumismo é grande e um tanto quanto consolidada. Mas como vc disse é um texto que tenta recolocar a questão em pauta. É isso mesmo que nossa sociedade quer? Viver para consumir?

Obrigada pelo comentário. Dei uma passada no seu blog e gostei bastante :)

POESIAS SENSUAIS E CONTOS disse...

O maior poema


Toda uma vida
é um grande
poema composto
de adjetivos
apreciativos
ou não vividos...
Assim sendo
todos nós
somos poetas
de nossa
própria história...


Poeta Francis Perot