E se não tivesse avião?

Depois de velha, passei a ter uns medos bobos. Medo de elevador e avião. Quando eu era criança eu adorava viajar de avião. Gostava da carreira antes da decolagem, da comida e de finalmente desembarcar nas férias. Viajar de férias era promessa de diversão. Na volta, a saudade de casa tornava a viagem uma promessa de reecontrar o aconchego de casa. There is no place like home.

Não sei exatamente quando comecei a ter medo de avião. De repente os barulhos me assustavam, o chão parecia mais quente que o normal e bastava uma turbulência pra eu achar que íamos cair.

Talvez o medo tenha vindo naquele dia que o avião arremeteu chegando em Brasília. Ficamos rodando no ar. Ninguém falava nada, nem respirava. Até a aeromoça explicar a situação acho que estávamos todos com medo da morte. Todos rezando, cristãos e ateus.

Ando cansada desse medo. Quero ainda fazer viagens maiores. Imagina passar 12 horas com medo? Tensa? Ansiosa pela chegada? Se drogar é sempre uma alternativa, mas não gosto muito dessa solução, prefiro ficar lúcida. Pensando nas viagens que quero fazer e no medo de avião, me veio a ideia "e se não existisse avião?".

Se não existisse avião, pensei primeiro, as pessoas teriam muito mais trabalho pra visitar seus parentes. Mas por que a gente se espalha tanto pelo mundo? Eu tenho família quase no Brasil inteiro: Nordeste, Centro-oeste, Sudeste. Fiquei pensando que se não tivesse avião, eu talvez nunca tivesse saído do Rio de Janeiro. Pera aí! Se não tivesse avião, talvez eu nunca nascesse. Porque talvez minha mãe não teria ido passar as férias no Rio e não teria conhecido meu pai. Talvez eles não tivessem casado em Maceió e partido para o Rio.

Se não tivesse avião, talvez não teria Larissa.