Vol-au-vent

Eu uso as ocorrências do google como padrão de qualidade. Se não tem no google é porque a pessoa tirou a expressão da cabeça dela... É um voo solo.

Ostentação

Tava na fila do táxi em frente ao shopping. Um grupo, todos vestidos com bonitas roupas, conversava efusivamente. Reclamavam que o preço da taça de vinho do porto era muito caro. No meio da história um senhor emendou outra, sobre uma viagem que fez a Paris e um jantar de 700 reais.

Eu fico cá pensando que tem alguma coisa muito errada quando um trabalhador passa oito horas diárias suando para sustentar os filhos e ao fim de um mês recebe menos que um outro senhor gasta em uma única refeição.

Monet em rede

Monet posta no instagram um in progress das Ninféias. Alguém comenta:

"E aquele outro quadro que tu me mostrou, acabou?"

"Que nada! Me arretei e taquei fogo."

Transporte público urbano 3

Tô indo ali numa empresa de segurança. Perdi meu emprego porque dei um murro num colega. Fazia semanas que ele ficava tirando onda comigo. Eu pedi pra ele parar. Mas ele continuou. Eu falando pra ele não fazer isso e ele zuando. Dizendo que eu parecia o Timão, do Timão e Pumba. Pô, não ri não. Isso é bullying.

(Risos)

Eu disse pra o chefe que era bullying. O cara faz de tudo pra não perder o emprego.

Eu sabia que ia dar merda. Mas não me aguentei. Tô levando os documentos lá nessa empresa pra ver se eles me aceitam. Não sei se vai rolar, mas to levando os documentos.

P.S.: Eu disse para ele fazer um esporte, para trabalhar essa agressividade. Ele respondeu que já fazia. Fazia jiu-jitsu, conhece?

Arte

- Como vão os quadros?

- Ah, outro dia pintei um no domingo. Uns peixes psicodélicos. Mas ficou bonito mesmo. Quando eu terminei chega sentei e fiquei admirando. Daí trouxe pra cá no dia seguinte. Um cliente chegou pra mim e disse: "pode tirar esse aviso aí de vende-se". Levou no mesmo dia que botei pra vender.

- Você usa tinta a óleo ou acrílica?

- A óleo... Porque ela é mágica.

O taxista e os médicos cubanos

O taxista olhou para os ônibus parados na Conde da Boa Vista.

Quando vejo essas coisas fico logo pensando que é protesto. Sexta-feira mesmo, teve um, sabia? Agora os médicos também tão dizendo que vão protestar, por causa desses médicos que tão vindo aí. Mas vou dizer uma coisa para senhora, eu não estudei não... não tive oportunidade, nasci no interior, entende? Mas ó, eu vou dizer... O pessoal fica falando que esse médicos não vão dar certo, porque não vão conseguir se comunicar, mas acho que isso não tem nada a ver. Porque a gente se adapta sabe? Isso é o mais fácil...

Eu tenho um minino. Um menino não, mas falo menino porque é assim, o filho da gente é sempre criança. E aí ele tinha uma doença que médico ninhum dava jeito. Médico ninhum. Ó, eu mandei ele até pra São Paulo, porque eu tenho uma filha que mora lá. Ele foi, voltou. E nada! Aí um médico aqui em Recife, que falava meio diferente, falava assim com aquele jeito que você vê que não é daqui do Brasil, sabe? Ele que curou o rapaz. Agora meu minino tá bonzinho, tá com 37 anos. Eu falo que ele não era daqui pelo sotaque, diferente.

Acho bobagem essas reclamações. Se é pra ajudar, deixa os médicos virem!

Sistemas Referenciais 2

- O senhor sabe dizer onde fica tal lugar?

- Nessa rua mesmo, depois da quarta árvore. Só contar.

- Depois de que?

- Da quarta árvore?

- Árvore?

- Pois é, um novo ponto de referência.

Transporte Público Urbano 2

Enquanto esperava o ônibus, me assustei com um barulho. Um moleque havia dado um soco no ponto de ônibus e falava coisas dispersas. Parecia estar fora de si. O ônibus chegou e para meu desagrado o menino subiu pela porta de trás, ainda falando coisas dispersas como se estivesse fora de si. "Mal vestido" como ele estava, com aparência de pessoa "da rua" tive medo e procurei um lugar mais longe.

Comecei a pensar na vida. Esqueci do indivíduo.

Obrigado motô! Desceu o rapaz. O alívio foi geral. Assim que ele desceu as poucas pessoas no ônibus confessaram como estavam com medo de serem assaltadas. Dizia uma senhora: ele estava nitidamente drogado, um perigo.

Questão semântica

O estudante de arquitetura indaga ao telefone:

- Vocês têm pastel a óleo?
- Nem pastel de óleo, nem pastel de forno, esse número é de uma papelaria.

Galeano fala sobre arte

- Qual você acha que é, hoje em dia, nesse mundo, a função da literatura, a função da arte?

- A verdade é que é muito difícil dar uma resposta que não soe pedante ou arrogante. Ou que não pareça que a gente atribui aos artistas uma função privilegiada no mundo. Como se Deus nos beijou no berço e nos escolheu para salvar os demais. Não creio nisso para nada. Não creio em nenhum tipo de aristocracia, nem na do talento, ainda mais quando a aristocracia do talento é auto-eleita. Porque somos nós, os literatos, os artistas em geral, que no zoológico humano habitamos a jaula dos pavões. Então ficamos continuamente nos