Tristeza

Penso que as pessoas não merecem um texto sobre a tristeza. Mas percebo que quando ela se instala no peito precisamos acolhê-la. A gente deixa a tristeza se esconder cá dentro, ela nos embota a vista e anestesia a língua. Mas se a gente usa uma voz branda, aceita se recolher um tiquinho, a tristeza vai saindo de fininho, do mesmo jeito que chegou.

Todo poeta escreve sobre o amor. Alguns escrevem sobre a tristeza, é verdade. Mas nem de longe esses textos são tão prestigiados quanto os românticos. Quando se aceita a tristeza é porque é decorrente de um amor dilacerado. A tristeza sem motivo não rende rimas populares.

Assim a tristeza se recente e finca o pé em nossas vidas. Exige respeito tal qual a felicidade, a saudade, a paixão. "A tristeza é senhora" e precisa descansar.

Fazendo a Clarice

Hoje eu vou experimentar um pouco da escrita automática. Apenas para ressuscitar esse espaço daqui. Sou repetitiva em escrever que é difícil escrever na era do excesso de informação. Todo mundo que eu conheço tá correndo e cansado. Quando vai ler algo tem que ser ou alguma coisa que resolva uma treta da vida ou um texto muito potente.

E textos úteis assim dificilmente saem de escrita automática. Nos roubaram o tempo de entrar nos devaneios dos amigos. Tudo é objetivo, cronometrado, financerizado. E isso é uma afirmação melancólica. Mas os amigo tão pouco têem tempo para a melancolia. Pandemia, pobreza crescente já são suficientes. Quando vamos ler queremos um texto que nos dê afago.

Surge aí o impasse... pq eu também não tenho mais neurônios que me ditem poesias ou crônicas.

Crise na educação?

(texto escrito em 16/12/2020)

Eu acredito que estamos sim passando por uma crise econômica. Acredito também que as empresas da educação sofreram perdas nos lucros, devido ao endividamento da população brasileira que se inicia em 2012 (DOWBOR, 2020) e só vem piorando. Essa redução de lucros no entanto passa ao largo do endividamento dos acionistas, visto que estes ocupam o topo da pirâmide financeira. E bom quando uma empresa qualquer dá preju, o acionista vai tirar o dinheiro dele da educação e jogar em soja, fintech ou qualquer outra coisa que for mais lucrativa no momento.  É por isso que aspectos básicos da manutenção da vida não podem ser tratados como mercadoria.

Nesse sentido, acho importante que a gente entenda onde estamos nessa estrutura econômica. Por isso, mais do que se entender como consumidor consciente, o que me deixaria feliz seria ver alunos (sejam do ensino médio ou superior, de faculdade pública ou privada) compreendendo que são na verdade trabalhadores, ainda que venham atuar como profissionais liberais. Afinal o que separa alunos, professores, funcionários administrativos e gerentes dos grandes acionistas são muitos muitos zeros na conta bancária. (Acredito até que os reitores de universidades públicas e privadas sairiam na vantagem caso se engajassem em projetos que diminuam a desigualdade econômica).

Feitas essas considerações, acho que seria razoável que empresas unifiquem os comunicados feitos para acionistas, consumidores e funcionários, adotando o princípio da transparência que já exigimos do Estado. Acredito também que nós devemos escolher representantes políticos para todas as esferas do poder explicitamentemente comprometidos com políticas públicas para educação e saúde gratuitas e de qualidade, pleno emprego (a fim de evitar alta rotatividade dos funcionários), renda básica e taxação de grandes fortunas. Muitas vezes a gente tem preguiça de se engajar politicamente, mas por exemplo, demissões em massa tornaram-se mais simples com a Reforma Trabalhista de 2017, implantada pelo governo Temer.

Além disso, compreender a nossa estrutura socioeconômica exige tempo, coisa que só rico tem né? Quem de nós não está nos corres? Por isso, todo e qualquer curso (arquitetura, psicologia, engenharia, veterinária) precisa ter dentro de suas grades disciplinas que nos permitam nos organizarmos enquanto sociedade. 

Representação e realidade

Que Merleau Ponty nos salve da cegueira medieval q nos faz crer que um desenho abarca a complexidade do olhar. Ou a cegueira "moderna", que aposta as fichas na fotografia. Ou ainda a contemporânea que se esquece que cinema é magia, parte ficção, parte realidade. Me sinto um pouco asquerosa por pensar em divagações estéticas após a morte de mais de 3869 pessoas. Mas vai ver, saber pensar o olhar contribui pra entender o tamanho do absurdo que deixamos acontecer.

Nada Ortodoxa

Me sinto muito feliz por finalmente ver filmes que retratam histórias de mulheres que não tem como foco principal o encontro de um par perfeito. Nada Ortodoxa retrata a história de uma mulher que abandona uma comunidade judaica ultra-ortodoxa em Nova Iorque. Eu, que já frequentei a Igreja Universal, enquanto morava com os meus pais, me identifiquei sobremaneira.

Eu poderia falar de várias aspectos da história da protagonista, mas hoje vou me deter a crítica ao amor romântico. Várias religiões estruturam seus discursos a partir da noção de família. Embora nem todo religioso siga a risca esses valores, os mais tradicionais, tendem a colocar a constituição e consolidação da família como o principal sentido da nossa existência. Mas eu vejo muito sofrimento decorrente desse ideal. A grande maioria das pessoas ao meu redor simplesmente não conseguem atingir esse modelo, e muitas parecem carregar um sentimento de frustração, inadequação, impotência. Apesar da promessa de felicidade no seio familiar, vejo dor. Por isso, sempre que esses valores forem apontados como absolutos, irei me opor.

Tenho boas memórias da minha infância, amo e sou grata aos meus pais. Mas como acontece com boa parte dos casais heterossexuais que posso observar, haviam muitas confusões entre eles. Acho sensível falar sobre isso, mas a verdade é que eles não precisariam se envergonhar, porque embora muitas vezes nos façam acreditar que casais conflituosos sejam exceção, na verdade são regra. Qualquer ida ao espaço público onde você se deixe observar como as pessoas se portam, evidencia isso.

Apesar dessa vivência, ao longo da adolescência eu desejava encontrar a alma gêmea. É que afastada do mundo real, eu achava que minha vida era exceção. Com 15 anos de idade a gente não sabe muito sobre o mundo e as famílias tradicionais contribuem para nos manter alheias. Uma família católica não é tão radical quanto uma judia ultra-ortodoxa, afinal as católicas até podem usar calça... Mas na essência as opressões são bem similares. Persistem: o controle sobre a aparência, a objetificação, a sexualização precoce. A gente acaba introjetando uma série de controles, a ponto de acharmos que realmente vamos morrer se rompermos os limites.

Para mim não houve felicidade no amor romântico. O que me permitiu ter felicidade genuína foi estudar. Apesar de ter nascido mulher, nasci branca, o que me poupou de uma série de estresses. Sou grata pela oportunidade ter me graduado e pós-graduado, o que me permite gozar de um "teto todo meu". Nesse cenário é até possível construir uma parceria afetiva. Parceria na qual escolho estar a cada dia por amor e não para satisfazer anseios familiares, a sociedade ou para pagar minhas contas.

The Social Dilemma

Assistimos "The Social Dilemma". Achei um documentário importante por mostrar como a ausência de regulamentação da indústria da internet pode ser danosa para nós enquanto sociedade. Além disso, concordo que grandes corporações devem ser responsabilizadas pelos impactos que causam a coletividade, afinal extrair lucro mediante o sofrimento alheio não deve ser tolerado.

Por outro lado achei o doc um pouco "egocêntrico" como se o nosso problema maior atualmente fosse de fato as redes sociais e não uma sociedade orientada para o consumo. Além disso, a alienação não é inaugurada pela internet, a subtração do ócio, a criação da TV, já contribuíam com isso há muito tempo.

Parece-me que o subtexto na verdade é "façamos a revolução antes que a massa faça". Homens brancos e ricos usam o documentário para fazer um alerta parcialmente verdadeiro mas não colocam como pauta o rompimento radical com o sistema capitalista. Nesse sentido, sou até contra a proposta que alguns fazem de simplesmente abandonarmos as redes para não sermos manipulados pelo capital. Fora da internet continuamos expostos a publicidade, marcas e gatilhos para consumo.

Nesse mesmo blog onde você está agora, relato um período que passei fora do Facebook, que era meu grande ralo de tempo na época. Porém, alguns anos depois quando vieram as nossas polarizadas eleições, percebi que ao abandonar a rede deixei de dialogar com a minha comunidade virtual e outras pessoas com valores um tanto duvidosos tomaram esse lugar. Por tanto, sigo com o ensinamento de Certau, a gente precisa  atuar como cupins. Enquanto não temos a opção de uma saída real do sistema, vamos corroer ele por dentro. Usemos as redes para construir nossos discursos! 

Concerto

Não faz parte do meu cotidiano ir a concertos. Eu poderia narrar aqui cada uma das vezes que fui a um. Foram poucos, portanto me lembro nitidamente dos dias. Se duvidar, digo até como eu estava vestida.

A primeira vez, fui ver a orquestra sinfônica de São Paulo, no Teatro Deodoro, em Maceió. Usei uma saia de malha preta, com pequenas estampas brancas e uma blusa, também preta. Acho engraçado conseguir descrever o modo como eu me trajava no dia. Isso só é possível porque toda a cena está vívida na minha mente.

Fui sozinha e sentei ao lado de um senhor que fazia parte da empresa patrocinadora do espetáculo. Se não me engano, ele era da Sony. Me confessou estar acompanhando a turnê Brasil afora. Ele não compartilhava da minha ansiedade de ver uma sinfônica pela primeira vez. Já tinha se acostumado. Eu, ao contrário, estava ali pela primeira vez e felicíssima.

Apesar de toda minha expectativa, esqueci qual foi o repertório do dia. Mas me recordo da comoção de ouvir os vários instrumentos soando juntos. De como a música preenchia o teatro. Preenchia meus ouvidos. Da comoção geral. Da platéia aplaudindo efusivamente.

É uma memória agradável.

Mas o engraçado de tudo isso é como essa cena surge na minha cabeça (e o que me fez escrever essa crônica). Quando vou escrever algo como "preciso consertar a tela do meu celular" e vem a dúvida "consertar, de arrumar, ajeitar, é com cê ou com esse?", eu lembro dos vários instrumentos soando em conjunto, em harmonia, em concerto. A palavra concerto, surge clara, em letras pretas. Concerto com "c".

O outro é ao contrário: conserto, com "s". Lembro de uma oficina com sons incômodos. Martelo batendo, o serrote cortando um pedaço de madeira...

Inflação da escrita

Vejo as pessoas ansiosas para escreverem artigos acadêmicos. Ansiosas para baterem metas numéricas: dez ou três artigos por ano? Publicar em espaços que proporcionem maior pontuação. Mas também vejo as mesmas pessoas a dizer: faz tempo que não consigo ler um livro por lazer. Não tenho tempo para dormir, tomar um chope, ver um filme. Será que sobra tempo pra namorar? E pra olhar pra o teto ouvindo música?

Nessa de dizer que precisam urgentemente escrever, nunca falam sobre seus temas, suas indagações, aquilo que lhes inquieta. Escrevem para publicar, não para serem lidos. Eu mesma não tive tempo de ler a monografia dos meus amigos de mestrado. Nem eles a minha. Muito se fala que o homem moderno não é culto, que perdemos o hábito da leitura. Pudera... Ainda somos máquina na era da informação.

Temos que produzir. Pensar é secundário. Divertir-se é secundário. Descansar é secundário. Escrevemos mais que nossa capacidade de ler e digerir. Dedicamos mais horas a escrita do que a leitura. E sem sorver o mundo, vamos escrever sobre o que? Sobre a escrita? Sobre o que já foi dito, apenas milimetricamente modificado? Assim como o silêncio, seria preciso apreciar a ausência da escrita. Nenhum teclado sendo dedilhado. Silêncio. No hay escrita.

Política

Eu tinha pensado em escrever sobre a situação política no Brasil, mas acabei perdendo a vontade. Logo após a repercussão da condução coercitiva de Lula e o desdobrar dos fatos, com pessoas indo as ruas, parecia que o Brasil tinha saído da inércia. Mas agora parece que tudo voltou ao estado de sempre. Saiu a lista da Odebrecht e ao invés de uma nova tomada da rua, voltou a tradicional rabugentisse facebookiana: não se salva um político no Brasil. E apesar do frequente "deveríamos nos unir contra essa corrupção" não vejo um movimento além desse comentário. Ver esse cenário me lembra porque abandonei essa rede social. Me parece que houve protesto contra a rede globo, mas nada que tenha sensibilizado fortemente as massas. Parece que agora vamos assistir a um bizarro processo de impeachment xingando ou aplaudindo virtualmente, mas apenas como expectadores, como se os rumos da política não nos dissesse respeito.

Elefante Branco

Fazia muito tempo que eu havia baixado esse filme. Tenho me interessado pelo cinema argentino. Mas até então havia assistido filmes onde predomina o humor. Em elefante branco não há espaço para o riso. Apesar das belas paisagens, não há também espaço para o encantamento. A situação retratada é tristemente real: a comunidade e uma paróquia buscam dar uso a um gigantesco hospital, cuja construção foi largada no meio do caminho.

A favela, com suas casas precárias, além de sofrer com o abandono das autoridades, fica no meio de uma guerra entre dois grupos de traficantes. Curiosamente, o nome da favela é "cidade oculta". Diante dessa lastimável realidade, o que mais me chamou atenção no filme é a alternância entre o cenário da favela e os suntuosos espaços da igreja católicas, por revezes revestidos por ouro.

Por fim, o filme nos toca através de seus personagens: humanos, falhos e sobretudo cansados.

Se Elefante Branco não nos deixa feliz, se não renova nossas esperanças, é um filme necessário.

E se não tivesse avião?

Depois de velha, passei a ter uns medos bobos. Medo de elevador e avião. Quando eu era criança eu adorava viajar de avião. Gostava da carreira antes da decolagem, da comida e de finalmente desembarcar nas férias. Viajar de férias era promessa de diversão. Na volta, a saudade de casa tornava a viagem uma promessa de reecontrar o aconchego de casa. There is no place like home.

Não sei exatamente quando comecei a ter medo de avião. De repente os barulhos me assustavam, o chão parecia mais quente que o normal e bastava uma turbulência pra eu achar que íamos cair.

Talvez o medo tenha vindo naquele dia que o avião arremeteu chegando em Brasília. Ficamos rodando no ar. Ninguém falava nada, nem respirava. Até a aeromoça explicar a situação acho que estávamos todos com medo da morte. Todos rezando, cristãos e ateus.

Ando cansada desse medo. Quero ainda fazer viagens maiores. Imagina passar 12 horas com medo? Tensa? Ansiosa pela chegada? Se drogar é sempre uma alternativa, mas não gosto muito dessa solução, prefiro ficar lúcida. Pensando nas viagens que quero fazer e no medo de avião, me veio a ideia "e se não existisse avião?".

Se não existisse avião, pensei primeiro, as pessoas teriam muito mais trabalho pra visitar seus parentes. Mas por que a gente se espalha tanto pelo mundo? Eu tenho família quase no Brasil inteiro: Nordeste, Centro-oeste, Sudeste. Fiquei pensando que se não tivesse avião, eu talvez nunca tivesse saído do Rio de Janeiro. Pera aí! Se não tivesse avião, talvez eu nunca nascesse. Porque talvez minha mãe não teria ido passar as férias no Rio e não teria conhecido meu pai. Talvez eles não tivessem casado em Maceió e partido para o Rio.

Se não tivesse avião, talvez não teria Larissa.

Eu não tenho TV

Faz tanto tempo que não tenho televisão que me surpreendo por as pessoas se assustarem quando descobrem que eu não tenho TV.

Deixei de assistir tv de modo gradativo. Durante a graduação minha rotina era intensa e a tv compartilhada por muita gente. A linguagem e mensagem da televisão foi aos poucos deixando de fazer sentido pra mim. E falo de tv de modo amplo, seja aberta ou fechada, nacional ou internacional.

Lembro que no meu perfil do Orkut, na parte de programas de televisão eu dizia que só assistia a vídeos do YouTube, indicados por amigos.

Quando me formei, fui pra Teresina morar num quarto de hotel desativado. Até tinha tv lá, só que não funcionava. Depois de dois anos eu já estava adaptada a completa ausência dos programas de televisão na minha vida.

Fazia mestrado e "trabalhava" no Iphan. Isso ocupava boa parte das horas do meu dia. Tinha que me virar cuidando de mim e da minha "casa". Ver os amigos. E enfim, sempre tive computador para "perder tempo".

Quando vim para Recife, fui morar com Thiago, que para minha alegria também não tinha televisão em casa. Atualmente estou morando só novamente e contínuo sem tv.

Alguns me perguntam como consigo ficar sozinha no silêncio. Bom, o silêncio não é necessariamente perturbador para mim. Eu inclusive aprecio e sinto falta do silêncio. Por outro lado, como tenho computador e celular, há sempre a possibilidade de ouvir músicas.

Outra questão comum é como faço para me manter informada. Particularmente não acredito na televisão como melhor meio de informação. Leio blogs, portais de notícias, converso com as pessoas na rua.

Sou feliz sem televisão e pretendo continuar assim.

Conhecendo Recife

Faz quase três anos que estou morando por aqui por Recife. A vida vai num ritmo que acabo não curtindo tanto a cidade.

Mas ando me esforçando pra mudar isso e esse foi um mês que consegui conhecer bastante coisa. Sozinha, fui no Museu do Homem do Nordeste, no Paço do Frevo.

Esse fim de semana, passei com Thiago. Visitamos o Parque 13 de Maio. Almoçamos no Central, que não foi novidade, mas valeu a pena refazer o programa e comer a mesma coisa, acompanhada de uma cerveja gelada. Conhecemos dois sebos. Arrematei um Milan Kundera e fiquei em êxtase vendo exemplares da década de 1930. Se o dia terminasse assim, eu já estaria feliz.

Mas quando votamos para casa vi que Permanência, filme que eu estava com vontade de ver estava passando no cine São Luiz. Faz muito tempo que esse lugar está na minha lista mental de lugares pra visitar. Estávamos cansados, mas mesmo assim Thiago topou e lá fomos nós visitar mais um recanto recifense.

Foi maravilhoso! O cine São Luiz comove de tão bonito.

Pra terminar o dia, nada como um crepe no Montmartre. Outro velho conhecido que sempre vale a pena repetir.

Amantes passageiros

Mais um filme típico de Almodóvar. Uma comédia nonsense de cores vibrantes.

A situação é improvável, uma distração dos funcionários em terra fez emperrar o trilho de pouso. Resultado: os pilotos precisarão fazer um pouso emergencial, em uma pista totalmente livre.

Prevendo que informar a tripulação sobre o caso poderia causar pânico, os comissários resolvem a questão de forma eficiente e imoral: dopam toda a classe econômica.

Como os passageiros da classe econômica dormem o filme inteiro, a maior parte das cenas se passam na primeira classe, na ala dos comissários e na cabine dos pilotos.

É um enredo divertido e inusitado.

Her

Fiquei apaixonada pelas cores do poster do filme. Criei a expectativa de cenas cheias de contrastes cromáticos. Embora o filme tenha uma paleta própria, com "candy colors", as cenas não me pareceram tão ricas no quesito cor.

"O fabuloso destino de Amelie Poulain" foi um dos primeiros filmes onde comecei a prestar atenção como algumas cenas do cinema parecem quadros cuidadosamente coloridos. "Grande hotel Budapeste" é outra paixão minha. Não encontrei esse primor em Her. As "candy colors" pareceram estar no filme para compor um futuro hipster. Os cenários e o vestuário pareciam com o mundo do Pinterest.

Sobre a história em si, posso dizer que seu mérito é nos fazer refletir sobre o que procuramos nas nossas relações amorosas.

Blind

É uma história sobre uma mulher que perdeu a visão e um pouco do gosto pela vida. A personagem não se sente preparada para enfrentar a rua. Passa seus dias em casa, escrevendo um romance.

Apesar de ter gostado do filme, ele não me impactou tanto. Já se passaram alguns dias que assisti e a lembrança do filme está bastante difusa.

Lars and the real girl

Num primeiro momento achei que seria mais um filme onde tenta se mostrar que não existe mulher perfeita. Por causa do título em português ("A garota ideal"), associei a alguns filmes que já assisti ("Her", "A mulher invisível" e "A namorada perfeita"). Fui convecida de que o filme não seguia essa linha e resolvi assiti-lo.

Me comovi com a história. Na verdade, o filme conta as dificuldades de um homem que sofreu traumas de infância (quem não sofreu?) e não consegue se relacionar com as pessoas "normalmente". O toque lhe incomoda muito! Mas apesar das suas dificuldades Lars é um rapaz dócil e atencioso, muito querido pelos que estão a sua volta.

Em determinado momento, Lars compra uma boneca inflável e a apresenta como sua namorada ao seu irmão e sua cunhada. Através de Bianca, sua namorada de plástico, Lars consegue ampliar seu convívio com a comunidade. A princípio todos ficam pertubados com a situação, mas acabam acolhendo a loucura de Lars. É um belo filme sobre empatia e amor. Aquele filme que renova nossas esperanças e afaga nosso coração.

99 days off

Eu já havia dado um tempo no Facebook, quando um amigo me sugeriu participar do 99 days off.

99 days off foi um projeto que surgiu da polêmica em torno de pesquisas que o Facebook estaria fazendo sobre o comportamento dos usuários. O projeto nos convida a abandonar o Facebook por um pouco mais de 3 meses. Ao longo desse período os participantes respondem questionários que investigam o que muda na rotina dessas pessoas. Além disso são feitas perguntas sobre sentimentos associados ao uso ou a abstinência da rede social.

Como me senti nesse período?
O Facebook é pra mim um espaço de fuga. Um vício, semelhante ao álcool, cafeína ou fast food. Então geralmente visito a rede com mais frequência nos dias que estou mais ansiosa. A grande questão é que com esse hábito, a minha ansiedade ao invés de diminuir aumenta. Provavelmente, porque ao invés de resolver meus problemas estou me distraindo.

No fim das contas, os três meses passaram mais rápido do que eu esperava. E como com todo vício, o mais difícil foram os primeiros dias. Agora que voltei, já desperdicei horas  preciosas.

Muitas vezes a gente resume a nossa navegação na internet ao Facebook, mas existe internet fora do FB. Existem também outros meios de se comunicar com os amigos. E nem tudo precisa ser compartilhado, no exato momento que se pensa ou se vive. Uma certa vagarosidade me faz bem.

De todo jeito senti falta das pessoas queridas que só tenho notícia por aqui. Estou de volta por um tempo, mas deixo o convite pra quem quiser fazer essa experiência, vale a pena.

Mundo Virtual

Ao mesmo tempo que me sinto mais leve sem usar redes sociais eu perdi um dos espaços onde descarregava minha ansiedade. Era muito comum que o pouco de tempo que tinha pra ficar parada me gerasse a vontade de checar o Instagram ou o Facebook. Imaginava que perderia só uns minutinhos, mas não rara às vezes eu acordava quando fazia ao menos uma hora que havia mergulhado nesse buraco sem fundo que é o Facebook.

A atmosfera do Facebook é caótica. Lamentos e propagandas disputam espaço na nossa mente. Algumas poucas mensagens de afeto ou curiosidades interessantes servem pra nos manter ali, crentes que a ferramenta não é má, mau é o seu uso. Já advoguei esse ponto de vista. Mas depois de inúmeras vezes tentando fazer um uso "saudável" do Facebook, começo a achar que a ferramenta é má mesmo. Assim são como as drogas, que embora possam nos trazer prazer e benefícios momentâneos, tendem a fragilizar nossa saúde. 

Outro efeito negativo que consigo notar nessas redes é a capacidade de nos manter flutuando, longe da realidade. No mundo virtual tudo é simulacro, ainda que existam com base em objetos reais. Para quem tem facilidade pra viver no mundo das idéias, a ligação compulsiva com o mundo virtual nos distancia ainda mais da terra.

Conheço muita gente com dificuldade de olhar dentro dos olhos do outro. Em compensação, esses olhos parecem não se cansar do brilho artificial das telas dos smartphones.

Pedido

Deus me dê forças para eu seguir meu caminho. Ilumine meus passos. Ajude-me a encontrar felicidade e a fazer as pessoas ao meu redor mais alegres. Que a raiva não perdure no meu corpo. Que a minha mente não se ocupe com mágoas. Que as tristezas me tornem mais forte, mas que minha ternura não se perca.

Amém!