Infortúnio

Paguei duas vezes por um doce de leite, açucarado além da conta. Quando quero comer, sequer consigo abrir a tampa.

Cartas

A primeira lembrança que tenho de receber uma carta do meu avô eu era bem pequena. Tinha... sei lá... uns 5 anos, mal sabia ler. Era um postal de Veneza, com uma gôndola e personagens da Disney. Fiquei muito feliz de saber que o vovô enquanto se divertia, lembrava-se de mim.

Aos 13 anos fui morar longe dele. Vez ou outra trocamos cartas. Não é porque meu avô seja idoso e não

Não me dê um caderno verde

Nunca me dê um caderno verde. Nem com pautas. Desculpa. Eu entendo o seu carinho, mas um caderno assim não serve de nada para mim. Meus cadernos são para desenhar. Mesmo os de estudo, eventualmente vão ter um rabisco ou um croqui.

Só que na verdade não é o desenho em si que me atrai. Eu gosto de colorir, de subverter as cores. De pintar pessoas de azul, os cabelos de verde, os lábios de roxo. Gosto de céus amarelos, nuvens vermelhas. E o caderno verde já vem com cor. Não dá certo.

Eu posso até tentar fazer um desenho ou outro numa folha colorida. Mas quando eu penso que vou viajar e só tenho um caderno verde para levar, fico triste.

É assim, sou filha única e quando criança aprendi a vencer a solidão desenhando. Então por favor, quero folhas brancas.

História (inventada) de taxista

A gente pega cada passageiro, que daria um livro só de história de passageiro. Outro dia entrou uma mulher tão eufórica no carro que fiquei com medo dela me dar um beijo ou sei lá. Ficou falando que passou uns 2 anos que a vida dela era só dissertação dissertação dissertação. Que agora tudo isso tava bem perto de acabar, que ia viajar para o Rio de Janeiro defender a tal dissertação sobre Teresina. Eu não entendi foi o que ela tava fazendo no Recife. Mas nem consegui perguntar nada. Ela ficou lá falando e eu só escutando.

Curral eleitoral


Aqui vai dar na Boa Vista?
Não, não. Aí vai para a Agamenom. A Boa Vista é por ali.

Como eu estava indo por ali onde apontei, a senhora me acompanhou.

Meus créditos acabaram. Aí fiquei contrariada. Porque queria falar com a minha filha. Daí acabei errando o caminho. Saí da farmácia e errei. Mas é assim, a gente fica contrariada com essas coisas, né? Eu não acredito que ninguém viva tranquilo hoje em dia. Se a pessoa disser que é tranquilo eu duvido. Tudo deixa a

Você me deixa louca!

"Contudo, a noção de patrimônio urbano histórico, acompanhada de um projeto de conservação, nasceu na própria época de Haussmann, mas, como já vimos, na Grã Betanha, sob a pena de Ruskin." (Françoise Choay no livro A alegoria do patrimônio,  2001, p.177)

"Em muitos aspectos, especialmente quando prevê a estandartização planetária das grandes cidades, Ruskin revela uma sensibilidade de visionário. A causa que defende, porém, e que com ele e depois dele William Morris haverá de defender, não é, no sentido próprio, a da conservação de cidade e de conjuntos históricos." (Françoise Choay no livro A alegoria do patrimônio,  2001, p.182).

Vocabulário

Quando fui morar em Teresina estava quase parando do tomar refrigerante. A derradeira bebida açucarada que me livraria era a Schweppes.

Em uma lanchonete pedi:

- Tem chuépes?
- Tem o quê?!
- Chuépes.
- Hum... tem isso não moça.


Chuu - é - pes... Que palavra engraçada! O que é isso, moça?

Sustentabilidade Tupiniquim

Não sei se a história que vou contar é motivo de riso ou choro. 

Estamos nós, brasileiros, aprendendo a lidar com nossos resíduos. Vemos aqui e ali alguma campanha sobre reciclagem de lixo. Nas nossas cidades os catadores de lixo são pouco valorizados por esse serviço tão útil, trabalham informalmente e recebem uma baixa remuneração.

Hoje descobri que o flanelinha da rua do meu trabalho também atua no ramo da "coleta seletiva". Até aí, nada além do ordinário. Observei que ele tomava conta de um saco cheio de latas inteiras, enquanto que no meio da pista tinham várias latinhas de veneno-preto largadas. Como tornou-se inevitável, os carros passavam e esmagavam as latinhas. Ele catava as latinhas amassadas e jogava as latas inteiras no meio da rua. E assim ia, aproveitando a força automobilística para compactar o alumínio.

Se o nosso sistema de coleta de lixo é precário, ao menos nossos catadores são engenhosos.

O entregador de listas amarelas

Estava indo para o trabalho, caminhando pela manhã.

"Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"

Cantarolava um entregador de listas amarelas.

Meu primo mais novo, com os seus 5 anos, não deve saber o que é uma lista amarela. Embora na casa da minha avó, tenha um exemplar embaixo da mesinha do telefone. A brochura deve estar lá desde que fui morar em Maceió, há 13 anos. 

Ironia

Eu moro na frente de um "Hospital de Fraturas". Tão ruins são as calçadas dessa cidade que qualquer dia desses, deusmelivre, me aproveito da conveniência de morar na frente de um hospital, um hospital de fraturas.


Outra ironia: ser atropelado por uma ambulância. Vez ou outra alguém larga essa em uma mesa de bar. O